Vasco é eliminado da Sul-Americana com protestos, vaias e crise institucional no São Januário

Vasco é eliminado da Sul-Americana com protestos, vaias e crise institucional no São Januário nov, 4 2025

Na noite de 23 de julho de 2025, o Club de Regatas Vasco da Gama viu sua temporada internacional desmoronar diante de uma torcida que não apenas vaiou, mas se recusou a assistir. Derrotado por 1-1 no jogo de volta contra o Independiente del Valle no Estádio São Januário, o Vasco foi eliminado da Copa Sul-Americana 2025 com um agregado de 6-1 — um resultado que não só encerrou sonhos, mas expôs uma crise profunda dentro do clube. Aos 20 minutos do segundo tempo, o zagueiro João Victor, de 28 anos, marcou o gol de honra, mas o gesto de colocar as mãos nos ouvidos em direção à arquibancada social transformou o momento em símbolo de ruptura. A torcida, que há mais de 30 anos canta ininterruptamente em casa, ficou em silêncio absoluto. Não foi apatia. Foi protesto.

Um estádio que se recusou a torcer

Nos primeiros minutos do segundo tempo, centenas de torcedores na arquibancada social — onde sócios pagam mais de R$ 300 por mês — viraram as costas para o campo. Não foi um grito, nem um aplauso. Foi uma ausência deliberada. Pesquisa do Núcleo de Antropologia do Esporte da UFRJ de 2024 confirmou: em 32 anos de histórico de jogos no São Januário, nunca antes a torcida havia permanecido em silêncio durante todo o segundo tempo de um jogo internacional. Aqueles que não viraram as costas, gritavam: "Pedrinho, sai!" e "João Victor, vai pra casa!". O presidente Pedrinho (Pedro Ribeiro da Silva), de 52 anos, foi alvo constante de xingamentos, enquanto o técnico Fábio Carille, contratado por R$ 850 mil mensais em março de 2025, parecia ausente, como se já soubesse que o jogo não era mais seu.

A queda começou antes da derrota

A eliminação não foi um acidente. Foi o ápice de uma trajetória de erros. A campanha começou com esperança: o Vasco voltava às competições internacionais após cinco anos — desde a Copa Libertadores de 2020. Mas a estreia, em 12 de abril de 2025, no Estádio de la UNSA, em Arequipa, Peru, foi um sinal. Empatou por 3-3 com o FBC Melgar, depois de abrir 3-1. A Folha de S.Paulo chamou de "o começo do fim da credibilidade tática". O empate em casa contra o Academia Puerto Cabello em 26 de abril, seguido pelo 1-1 com o Club Atlético Lanús em 10 de maio, onde o gol foi marcado por Julián Malatini, de 23 anos, minou a confiança. A goleada de 4-1 para o Puerto Cabello em Caracas, em 17 de julho, foi a maior sofrida por um clube brasileiro contra um venezuelano na história da CONMEBOL.

João Victor: o símbolo da frustração

João Victor: o símbolo da frustração

João Victor, que chegou ao Vasco em janeiro de 2023, era um dos poucos jogadores que mantinham alguma estabilidade. Mas o incidente em 5 de julho, durante um treino aberto no CT Moacyr Barbosa, virou viral: ele recusou autógrafos após a derrota por 2-0 para o Fluminense. O vídeo, com 2,4 milhões de visualizações no Twitter, transformou o zagueiro de herói em vilão. "Tem que confiar, não posso fazer nada", disse ele aos repórteres do SporTV, às 23h15 do dia da eliminação. A diretoria, em nota oficial às 00h30 de 24 de julho, assinada pelo diretor de futebol Marcelo Vilar, de 47 anos, reforçou: "A equipe cumpriu o compromisso". Mas o que a torcida queria não era justificação. Era mudança.

A crise que veio da conta bancária

A eliminação não foi só emocional. Foi financeira. O Vasco perdeu R$ 15,8 milhões em premiação da CONMEBOL por não chegar às oitavas — dinheiro que seria usado para pagar dívidas. O departamento financeiro já prevê déficit de R$ 38,2 milhões no segundo semestre, com queda de 40% nas vendas de cotas de sócio-torcedor. E isso vem em meio a uma dívida auditada em R$ 287,5 milhões pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro em março de 2025. A diretoria priorizou a Sul-Americana, aprovando em assembleia em 15 de janeiro de 2025 um plano com meta de classificação até 30 de junho. Falhou. E agora, a conta chegou.

Impeachment e assembleia de emergência

Impeachment e assembleia de emergência

Em 18 de julho, 347 sócios protocolaram pedido de impeachment de Pedrinho na sede administrativa do clube, na Rua General Severiano, 99, em Botafogo. O documento, registrado no Cartório de Títulos e Documentos de Botafogo, acusa a diretoria de "gestão irresponsável" e "desvio de prioridades". A assembleia extraordinária foi marcada para 30 de julho de 2025 — menos de uma semana antes do início do Campeonato Brasileiro Série B, em 2 de agosto. O clube, que já viveu tempos de glória, agora enfrenta o risco de perder não só o futuro esportivo, mas a confiança de quem o sustenta: os sócios.

Frequently Asked Questions

Por que a torcida virou as costas durante o jogo?

A torcida virou as costas como forma de protesto simbólico contra a diretoria e os jogadores, após anos de promessas não cumpridas e desempenho pobre. O silêncio absoluto no segundo tempo, algo inédito em 30 anos, foi uma reação à percepção de que o clube não está mais se esforçando — e que os recursos públicos e as mensalidades dos sócios estão sendo mal aplicados. O gesto de João Victor de colocar as mãos nos ouvidos foi o estopim final.

Qual foi o impacto financeiro da eliminação?

A eliminação custou R$ 15,8 milhões em premiação da CONMEBOL, além de uma queda de 40% nas vendas de cotas de sócio-torcedor previstas para agosto. Com dívidas já em R$ 287,5 milhões, o Vasco projeta déficit de R$ 38,2 milhões no segundo semestre. Sem receita internacional, o clube depende cada vez mais de patrocínios e da venda de jogadores — algo que não está no plano atual.

Por que o técnico Fábio Carille foi tão criticado?

Carille foi contratado por R$ 850 mil mensais, o que o torna um dos técnicos mais bem pagos do Brasil. Mas sua postura tática foi questionada desde o empate por 3-3 contra o FBC Melgar no Peru, em abril. O Vasco perdeu a liderança do grupo após isso, e suas escolhas no jogo contra o Independiente del Valle — como manter a defesa alta sem suporte ofensivo — foram vistas como desatualizadas. A Folha de S.Paulo apontou que ele não adaptou o time às realidades do futebol sul-americano.

O que pode acontecer na assembleia de 30 de julho?

A assembleia pode votar pela renúncia de Pedrinho ou pela convocação de novas eleições. Há pressão para que o conselho de sócios nomeie um gestor técnico externo, algo inédito nos últimos 20 anos. Também pode ser discutida a venda de ativos, como o CT Moacyr Barbosa, para reduzir dívidas. A reunião será decisiva para saber se o Vasco ainda tem futuro ou se entra em um período de reestruturação forçada.

João Victor vai sair do Vasco?

Ainda não há confirmação, mas o zagueiro tem contrato até dezembro de 2026. Contudo, com a torcida hostil e a diretoria em crise, é provável que ele seja colocado à venda. Clubes da Argentina e da Colômbia já demonstraram interesse. Se ele não for negociado, o Vasco corre o risco de ter um jogador de alto valor, mas com imagem destruída, atrapalhando a reconstrução da identidade do clube.

O Vasco pode voltar às competições internacionais em breve?

Só se vencer a Série B em 2025 — e mesmo assim, precisará de reformas financeiras e administrativas. A CONMEBOL exige certificação de regularidade fiscal e governança. Com a dívida atual e a crise de gestão, o Vasco está longe de cumprir esses requisitos. A volta às competições internacionais, se acontecer, só será possível em 2027 ou 2028 — e só se houver mudança real de cultura dentro do clube.

12 Comments

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    Juliana Ju Vilela

    novembro 5, 2025 AT 20:34

    Mano, isso aqui é o fim de uma era mesmo... Mas a torcida não tá errada. Se você paga R$ 300 por mês e vê o clube virar um circo, é hora de botar a culpa no lugar certo. Não é o João Victor, não é o Carille... é a diretoria que vive em outro planeta.

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    kang kang

    novembro 7, 2025 AT 02:40

    Isso aqui é o que acontece quando você trata futebol como negócio e não como paixão 🤡. A torcida não vaiou, ela se despediu. E o pior? Ela já estava cansada desde o empate de 3-3 no Peru. Ninguém quer mais ilusão, quer mudança real. E mudança não vem com discurso bonito, vem com ação. 💔

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    gustavo oliveira

    novembro 8, 2025 AT 10:02

    Eu moro em São Paulo, mas sou vascaíno de coração. Vi isso tudo ao vivo na TV e chorei. Não pelo resultado, mas pela ausência de emoção. O São Januário era o lugar onde o futebol respirava... agora tá morto. E isso não é só do Vasco. É de todo o futebol brasileiro que virou marketing e perdeu a alma.

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    Caio Nascimento

    novembro 9, 2025 AT 18:20

    Eu não concordo com o silêncio. Não é protesto, é covardia. Se você não torce, vá embora. Mas não fica ali, sentado, fazendo teatro. O jogador marcou o gol, e ele merecia um aplauso. A diretoria é corrupta, sim... mas a torcida também tem culpa por não ter se mobilizado antes.

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    Rafael Pereira

    novembro 10, 2025 AT 15:10

    Sei que tá difícil, mas a gente precisa se unir. Não adianta só xingar. A assembleia de 30 de julho é a nossa chance. Vamos lá, com documentos, com ideias, com propostas. Não queremos um novo presidente... queremos um novo clube. E isso só acontece se a gente se organizar. Vamos fazer isso juntos?

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    José Vitor Juninho

    novembro 12, 2025 AT 00:14

    Tem coisa mais triste que um estádio silencioso? A gente tá vivendo o fim de um ciclo, e ninguém quer admitir. O João Victor não é o vilão... ele é só um cara que tentou fazer o seu papel, e foi jogado contra a parede. A torcida queria alguém para odiar... e ele foi o escolhido. Triste, mas previsível.

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    Maria Luiza Luiza

    novembro 12, 2025 AT 11:15

    Ah, então agora o João Victor é herói? Tava jogando mal desde o ano passado, e ninguém viu? O técnico ganha 850 mil e dorme no banco? A torcida virou as costas? E daí? Eles ainda pagam R$ 300 por mês pra assistir isso? Meu Deus, quem é o louco aqui?

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    MAYARA GERMANA

    novembro 13, 2025 AT 12:14

    Essa crise é só porque o Vasco não ganhou a sul-americana? Será que o mundo não gira em torno do Vasco? E a dívida de 287 milhões? Aí que tá o problema! Mas não, o pessoal tá só preocupado com o gesto do zagueiro... porque é mais fácil xingar alguém do que entender que o clube tá falido desde 2018 e ninguém fez nada! #VasconistaQueNaoLê

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    Flávia Leão

    novembro 13, 2025 AT 18:24

    Se a torcida tá silenciosa, talvez seja porque o futebol já não é mais um ritual... é um espetáculo vazio. E o João Victor? Ele só refletiu o que todos sentem: que o clube já não é nosso. É de quem tem dinheiro. E se a gente não se levanta agora, daqui a 5 anos, o São Januário vai virar um shopping. 🤷‍♀️

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    Andre Luiz Oliveira Silva

    novembro 15, 2025 AT 15:11

    Olha, o Vasco tá vivendo o que o Brasil inteiro tá vivendo: liderança sem vergonha, gente que acha que é dono da verdade, e uma massa que só reage quando já tá no fundo do poço. O João Victor? Ele tá só no lugar errado na hora errada. Mas o verdadeiro vilão? O sistema. O sistema que transforma paixão em produto, torcedor em cliente, e clube em patrimônio de banqueiro. E isso? Isso não é só do Vasco. É de todos nós.

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    Leandro Almeida

    novembro 17, 2025 AT 10:29

    Essa história toda é uma farsa. O Vasco nunca foi grande. Sempre foi um clube de nostalgia e ilusão. A torcida queria um herói, mas o que ela tem é um clube que vive de passado. E agora que o passado acabou, ela se sente traída. Mas não foi traída. Foi enganada por si mesma. E o pior? Ela ainda vai continuar pagando R$ 300 por mês. Porque não sabe viver sem sofrer.

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    Juliana Ju Vilela

    novembro 17, 2025 AT 16:55

    Eu vi o Rafael comentar lá em cima e achei lindo. A gente não pode só reclamar. Vou estar na assembleia. Com camiseta, com panfleto, com minha assinatura. Se o clube vai morrer, que morra com dignidade... mas que não seja sem luta. Quem quiser vir comigo, me chama no DM. Não vamos deixar isso acabar sem tentar.

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