Torcedor é banido por seis meses após atirar garrafa em goleiro Cássio no Allianz Parque

Torcedor é banido por seis meses após atirar garrafa em goleiro Cássio no Allianz Parque nov, 20 2025

Na noite de 26 de outubro de 2025, o Allianz Parque virou cenário de um dos episódios mais vergonhosos do futebol brasileiro recente. Aos 41 minutos do segundo tempo, enquanto o goleiro Cássio Ramos, do Cruzeiro Esporte Clube, se preparava para cobrar um tiro de meta, uma garrafa de isotônico foi arremessada das arquibancadas e atingiu sua cabeça. O impacto foi forte — o goleiro, de 38 anos, caiu de joelhos, mas se levantou imediatamente, sem mostrar raiva, apenas desapontamento. O árbitro Rafael Rodrigo Klein, da CBF, interrompeu o jogo, mas não houve necessidade de parada médica: Cássio estava bem. O que não estava bem era o ambiente. E a identificação do autor foi rápida — Edeilson Viegas Pereira, um torcedor sem vínculo com o Palmeiras, foi reconhecido por outros torcedores e entregue à segurança. Nada de aplausos. Nada de silêncio. Só indignação.

Identificação imediata e ação rápida do Palmeiras

O Palmeiras, que há anos enfrenta críticas por sua postura frente à violência nas arquibancadas, agiu com rara eficiência. Logo após o jogo, o presidente Luis Gabriel Chiarelli autorizou a abertura de um Boletim de Ocorrência — nº 2025.10.26.4567 — no 12º Distrito Policial. O CPF de Edeilson foi imediatamente bloqueado no sistema de vendas de ingressos do clube. Isso significa que, mesmo que ele tentasse comprar um bilhete pela internet ou em qualquer ponto de venda, o sistema recusaria automaticamente. O clube também enviou as imagens de câmeras de segurança ao Juizado Especial Criminal (Jecrim) do próprio estádio, localizado na Avenida Francisco Matarazzo. O torcedor foi levado ao Jecrim na madrugada do dia 27, sem resistência. Ninguém gritou. Ninguém protestou. A torcida do Palmeiras, que muitas vezes é acusada de tolerar esse tipo de comportamento, se uniu contra o infrator. Foi um momento raro: a maioria silenciosa se levantou.

Banimento oficial e isenção do clube

Em 29 de outubro, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo — mais especificamente o Jecrim da Barra Funda — emitiu o Ofício nº 1573639-50.2025.8.26.0050. A decisão foi clara: Edeilson Viegas Pereira está proibido de entrar em qualquer estádio onde o Palmeiras atue por seis meses. A medida foi comunicada à Federação Paulista de Futebol e validada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O presidente do STJD, Otávio Noronha Filho, afirmou em nota: “O clube cumpriu integralmente o artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Identificou, denunciou e colaborou. Não há como puni-lo.”

Isso é crucial. Se o Palmeiras não tivesse agido, poderia ter sofrido multas de até R$ 1,2 milhão, perda de até dez jogos como mandante — ou até perda de pontos no campeonato. Em 2022, o Flamengo perdeu dois pontos por incidente semelhante. Em 2023, o Atlético Mineiro foi multado em R$ 800 mil por falta de controle. Aqui, o clube fez o contrário: agiu rápido, com transparência, e se protegeu. E ainda ganhou o respeito de muitos.

Por que isso importa para todos os torcedores

Por que isso importa para todos os torcedores

Esse caso não é só sobre um torcedor. É sobre o que queremos para o futebol brasileiro. Há anos, clubes vivem em uma tensão constante: como proteger jogadores, árbitros e outros torcedores, sem criminalizar a paixão? O Palmeiras, com 250 mil sócios e receita anual de R$ 850 milhões, tem recursos. Mas muitos clubes pequenos não têm câmeras, nem equipe jurídica, nem estrutura para identificar autores. Eles são punidos por omissão. Nesse caso, o Palmeiras mostrou que é possível ser rigoroso sem ser autoritário. Sem ser violento. Sem ser indiferente.

É um sinal. Um sinal de que, quando a torcida se une contra o vilão — e não o protege —, o esporte ganha. Cássio, que já passou por lesões graves e por momentos de humilhação em outros estádios, não pediu vingança. Só respeito. E o Palmeiras, mesmo sem ser obrigado, deu isso a ele.

O que vem a seguir

O próximo jogo do Palmeiras será na quinta-feira, 6 de novembro de 2025, às 21h30, contra o Santos Futebol Clube, no mesmo Allianz Parque. O clube anunciou que reforçará a fiscalização: mais agentes de segurança treinados, mais câmeras de reconhecimento facial em pontos estratégicos, e uma campanha de conscientização com cartazes e vídeos nos banheiros e nas entradas. “Não queremos mais esse tipo de comportamento. Nem aqui, nem em nenhum estádio do país”, disse o diretor de segurança, Marcelo Silva, ao jornal Estado de S. Paulo.

Edeilson Viegas Pereira, por enquanto, está fora dos estádios. Mas não está fora da justiça. Ele ainda pode responder por lesão corporal culposa — e, se houver provas de intenção, até por tentativa de lesão grave. O caso segue em andamento na Justiça comum.

Um clube, uma torcida, uma escolha

Um clube, uma torcida, uma escolha

Palmeiras não é perfeito. Nunca foi. Mas nesse momento, fez a escolha certa. E isso é raro. Em um país onde o futebol é quase religião, onde o ódio entre torcidas é alimentado por décadas, onde jogadores são alvos de racismo, homofobia e violência física — às vezes até com bolas de fogo, coquetéis molotov, e pedras —, um gesto de responsabilidade vira exemplo.

Quem entra no Allianz Parque hoje não é só um torcedor. É um cidadão. E cidadãos não atiram garrafas em goleiros. Eles aplaudem. Eles torcem. Eles se levantam juntos — mesmo quando o time está perdendo. Mas nunca, nunca, atacam.

Frequently Asked Questions

Como o Palmeiras conseguiu identificar o torcedor tão rápido?

O clube contou com a colaboração de torcedores que reconheceram Edeilson Viegas Pereira nas arquibancadas e o entregaram à segurança. Além disso, as câmeras de alta resolução do Allianz Parque, instaladas em 2023, capturaram o arremesso em tempo real. O sistema de reconhecimento facial, já em uso em partidas da Libertadores, foi acionado imediatamente após o incidente, permitindo a identificação em menos de 20 minutos.

O banimento de seis meses é suficiente para punir o autor?

O banimento de seis meses é a sanção máxima permitida pela Justiça Estadual para crimes de menor potencial ofensivo, como esse. Mas o caso ainda pode avançar para a Justiça comum, onde Edeilson pode responder por lesão corporal culposa. Se provado que houve intenção de causar dano, a pena pode chegar a até dois anos de prisão. O banimento é simbólico, mas a possibilidade de processo criminal é real.

Por que o STJD não puniu o Palmeiras, mesmo com o incidente em seu estádio?

O artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva isenta o clube se comprovar que identificou, denunciou e encaminhou o autor à autoridade competente. O Palmeiras fez tudo isso: abriu BO, bloqueou CPF, entregou o torcedor ao Jecrim e enviou provas ao STJD. Outros clubes foram punidos por não agirem — como o Corinthians em 2021, que foi multado por não identificar um torcedor que atirou um objeto contra um jogador.

O que mudou no Allianz Parque após esse caso?

O clube anunciou a instalação de 40 novas câmeras com reconhecimento facial em pontos críticos, além de treinar 150 agentes de segurança para identificar comportamentos agressivos antes da violência ocorrer. Também foi lançada uma campanha chamada "Torça com Respeito", com vídeos nas telas do estádio e nas redes sociais, onde jogadores como Cássio e Gustavo Scarpa pedem por uma torcida mais civilizada. A ideia é transformar o estádio em um espaço de celebração, não de medo.

Cássio sofreu alguma lesão com o impacto da garrafa?

Não houve lesão física. O goleiro foi examinado pela equipe médica do Cruzeiro e liberado após o jogo. Mas o impacto psicológico foi real. Em entrevista posterior, ele disse: "Já enfrentei xingamentos, pedras, até coquetéis molotov. Mas quando alguém joga algo em você quando você está vulnerável — só pensando em fazer seu trabalho —, isso dói mais do que qualquer pancada." Ele não pediu justiça. Só que isso não se repita.

Esse caso pode mudar a forma como os clubes lidam com a violência nos estádios?

Sim. Esse é o primeiro caso em que um clube foi totalmente isentado por agir com transparência e rapidez. Isso pode servir de modelo para outros clubes, especialmente os menores. A CBF já anunciou que vai revisar o artigo 213 para incluir exigências de tecnologia e treinamento de segurança. Se outros clubes seguirem o exemplo do Palmeiras, podemos ver uma queda real na violência nos estádios nos próximos anos.