Globo corta 11 capítulos de 'Três Graças' e reescreve trama para salvar audiência

A Rede Globo decidiu fazer uma cirurgia radical na novela das 21h Três Graças após registrar média de 21,9 pontos em São Paulo nos primeiros 29 capítulos — números abaixo do esperado para o horário nobre. Em uma operação secreta iniciada em 23 de novembro de 2025, a emissora cortou 11 capítulos da trama, adiantou a narrativa e introduziu novos personagens, tudo para evitar o que muitos já chamam de ‘fracasso silencioso’. O 42º capítulo exibido em 6 de dezembro de 2025 será, na verdade, o 53º da versão original escrita pelos autores. É como se a novela tivesse sido enxugada como um tecido molhado: perdeu volume, mas ganhou ritmo.

Uma novela sob pressão

Desde o início, Três Graças enfrentou comparações desfavoráveis. Embora tenha recebido elogios de críticos e fãs nas redes sociais, os números não mentem: 21,9 pontos em São Paulo, contra 21,8 que Vale Tudo teve no mesmo período em 1988 — e que depois explodiu para mais de 60 pontos. A diferença? Enquanto Vale Tudo teve tempo para se desenvolver, Três Graças corre contra o relógio. O Natal se aproxima, e historicamente, em dezembro, a audiência cai até 15% no horário nobre. A Globo não quer repetir o erro de O Sétimo Guardião, de 2018, que perdeu público por conta de uma trama lenta e confusa.

Novos personagens e cenas cortadas

Entre as mudanças mais ousadas está a chegada de Viviane Araújo como Consuelo, uma ex-amante de Misael (Belo), personagem que ela viveu na vida real por nove anos, entre 1998 e 2007. O reencontro entre os dois na trama é mais do que um gancho romântico — é um golpe de marketing. A Globo sabe que o público adora histórias que misturam vida real e ficção. Mas nem todos estão sorrindo. Pelo menos cinco atores tiveram suas cenas reduzidas drasticamente, alguns até desapareceram por semanas. Um deles, que pediu anonimato, disse: “Nós não somos peças descartáveis. Se o autor quer mudar a história, que faça isso com respeito.”

O diretor artístico Luiz Henrique Rios, que assumiu mais controle após a reunião de 23 de novembro, começou a cortar cenas de fundo, subtramas familiares e até diálogos que demoravam para chegar ao ponto. “A ideia é acelerar o que importa”, explicou um membro da equipe à NaTelinha. “O público não quer ver alguém lavando louça por três minutos. Quer ver o que vai mudar a vida deles.”

A aposta em Aguinaldo Silva

A maior esperança da Globo está em Aguinaldo Silva. O autor, que voltou às novelas após o fracasso de O Sétimo Guardião, foi chamado para revisar os últimos capítulos. Ele é o único escritor brasileiro que já resgatou uma novela do abismo — e fez isso duas vezes: com Vale Tudo e Avenida Brasil. “Aguinaldo entende o pulso do público”, disse um executivo da Globo. “Ele sabe quando cortar, quando acelerar, quando deixar o silêncio falar.”

A equipe técnica se reuniu em São Paulo, estado de São Paulo, Brasil, para revisar os capítulos em tempo recorde. Cenas inteiras foram reeditadas, diálogos reescritos, e até a trilha sonora foi ajustada para dar mais tensão. O objetivo? Que, até 10 de dezembro, a novela consiga subir para 25 pontos — o mínimo necessário para manter o patrocínio e evitar o estigma de “fracasso”.

As consequências nos bastidores

As mudanças não foram bem recebidas por todos. A equipe de produção, que trabalhou meses para construir personagens secundários ricos, agora vê seu trabalho sendo apagado. Um assistente de direção, que trabalha na novela desde o início, contou: “Fizemos um personagem com trauma de infância, que se desenvolveu em 12 capítulos. Agora, ele só aparece para dizer ‘oi’ e sumir. É como se tivéssemos pintado um quadro e alguém tivesse apagado a metade.”

Os atores, por sua vez, estão divididos. Alguns acreditam que a nova versão é mais dinâmica. Outros, como quem interpreta um dos filhos da protagonista, se recusaram a fazer entrevistas. “Se a Globo quer salvar a novela, que não salve ela em cima do meu personagem”, disse ele em tom de despedida.

Por que isso importa?

Isso não é só sobre números. É sobre o futuro das novelas brasileiras. A Globo ainda é a maior produtora de conteúdo da América Latina, mas a audiência está se fragmentando. Netflix, Amazon Prime e YouTube estão roubando o público jovem. Se Três Graças falhar, será um sinal claro: o modelo tradicional de novela, com tramas lentas e personagens secundários bem desenvolvidos, pode estar chegando ao fim. A emissora está apostando tudo em uma nova fórmula — mais rápida, mais emocional, mais parecida com as séries internacionais. Mas será que o público brasileiro está pronto para isso?

O que vem a seguir

As próximas semanas serão decisivas. A Globo promete uma “reviravolta” no dia 3 de dezembro, com uma cena que envolve um segredo de família e uma revelação inesperada. Se a audiência subir, a “cirurgia” será celebrada como um milagre. Se não subir, a emissora terá que escolher entre manter a novela no ar com números ruins ou cancelá-la antes do fim — algo que não acontece desde 2014.

Enquanto isso, os fãs que amam a trama original se organizam nas redes. Há petições pedindo a liberação dos capítulos cortados. Alguns já criaram vídeos comparando as versões. A pergunta que fica: será que a Globo quer salvar a audiência… ou a memória da novela?